segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Discurso de um Paraninfo Ausente

Fui convidado para ser Paraninfo da "TURMA B" de Serviço Social da Universidade Tiradentes (Segipe) no campus de Propriá, mas infelizmente não pude me fazer presente, então escrevi este "discurso" e solicitei a uma amiga (também professora da turma) para me representar e ler a mensagem. Quero compartilhar com todos este texto.
Abraços
Zé Rominho!

Queridas afilhadas e Queridos afilhados,

É com muito pesar que não estou presente neste grande dia para vocês, e também para nós que fomos seus professores. Mas a distância de algumas centenas de quilômetros nos separam, e não foi possível estar presente neste momento tão especial. Mas sei que minha falta será sentida, porém não vai em nada diminuir o brilho da festa de vocês. Sei que a profa. Kátia Araújo poderá representar nós professores melhor do eu, inclusive, ela é uma excelente madrinha.

Mas nesta noite especial gostaria de dizer-lhes algumas poucas palavras. A vantagem de não estar presente, é que não poderei chorar. Fica feio um barbudo chorar em público.

Como vocês sabem, além de minha formação em filosofia sou graduado em teologia. E gostaria nesta noite fazer uma relação entre o Serviço Social, enquanto área do conhecimento e a teologia.

Há uma relação estreita entre o Serviço Social e a Teologia. Ambas procuram entender a sociedade

O Serviço Social é uma profissão de curso superior cujo objeto de intervenção são as expressões multifacetadas da questão social. Tem contribuições da sociologia, psicologia, economia, ciência política, filosofia, antropologia, pedagogia. O Serviço Social é uma profissão de caráter sócio-político, crítico e interventivo, que se utiliza de instrumental científico multidisciplinar das Ciências Humanas e Sociais para análise e intervenção nas diversas refrações da “questão social”, isto é, no conjunto de desigualdades que se originam do antagonismo entre a socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho.

O Assistente Social/Bacharel em Serviço Social é o profissional qualificado que, privilegiando uma intervenção investigativa, através da pesquisa e análise da realidade social, atua na formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas sociais que visam a preservação, defesa e ampliação dos direitos humanos e a justiça social. (Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Servi%C3%A7o_social.

A TEOLOGIA, como ciência (no sentido grego de episteme, conhecimento), também procura entender a sociedade, e a relação do homem-sociedade-DEUS. Do mesmo modo que o Serviço Social busca respostas para os anseios humanos, mas nas questões materiais e sociais, a Teologia busca respostas par o homem como um todo: corpo e alma; matéria e espírito.

Nesta noite de colação de grau e também de agradecimentos, inclusive ao Deus Eterno pela vitória dos formandos em SERVIÇO SOCIAL DA UNIT CAMPUS PROPRIÁ, 2010.1, noite de alegria, despedida e de início de nova etapa na vida, gostaria de pensar com vocês sobre um dos elementos da teologia que está presente No Serviço Social. E que juntos, Assistentes sociais e teólogos, CRESS e Igreja Cristã somos chamados a combater: O PECADO SOCIAL.

MAS O QUE É PECADO? É Toda ação humana que contraria a vontade do Deus Eterno, do Criador. O conceito de pecado aparece nas Escrituras Sagradas logo no início, quando o ser humano, representado pelo primeiro casal, contraria a vontade de Deus. O desejo do Criador: Obediência, Respeito, Harmonia. Ação humana: Desobediência, desrespeito, fim da harmonia. Assim, toda ação do ser humano que leva a ordem contrária do Criador é PECADO. Deus criou a terra para que fosse cuidada pelos seres humanos. Do barro os formou. A Humanidade, graças a sua desobediência SUJA, POLUI, DESMATA, EXPLORA, CORROMPE, PECA!

Um exemplo de pecado: Deus criou homem e mulher da mesma natureza, para haver harmonia. A ação pecaminosa da humanidade faz as diferenças e a exploração do homem sobre a mulher. Pecado é, pois desobediência.
Então vemos a Teologia se aproximar do Serviço Social e vice-versa quando a Teologia DENUNCIA O PECADO que se estabelece nos sistemas sócio-políticos-econômicos que levam a exploração do ser humano pelo ser humano.

Há 200 anos na Inglaterra, proprietários das minas que eram cristãos devotos e respeitadores das leis, contratavam regularmente crianças de 10 anos para trabalharem em suas minas. Eram de 12 a 16 horas diárias, em túneis escuros, úmidos, estreitos e cheios de lama. Resultado: A ESPECTATIVA DE VIDA ERA A MÍNIMA. MORTE DE CRIANÇAS. Enquanto isso seus filhos estudavam em Oxford ou Cambridge, com o dinheiro produzido legalmente (mas moralmente injusto) pelas mortes de crianças.

Mais ou menos na mesma época, navios negreiros atravessavam o Atlântico, trazendo para as terras de cristãos devotos das Américas, os porões cheios de negros retirados à força de suas terras, para serem escravizados, enriquecendo os países do NOVO MUNDO. Negros tratados, criados e utilizados como se fossem animais.
Tanto o trabalho infantil, quanto o tráfico negreiro e a escravidão eram legais no Séc. XIX, e moviam a economia dos chamados Estados Liberais. E eram justificados e legitimados por uma TEOLOGIA que era branca, européia, etnocêntrica, e NÃO-BÍBLICA. ISSO ERA E É PECADO!

A CONCEPÇÃO DE PECADO TEM SIDO DISTORCIDA. Muitos pensam saber o que é pecado. E em uma interpretação egoísta, o vêm como sendo apenas a mentira, o roubo a prostituição, os vícios. Mas as Escrituras Sagradas (aqui adentro o campo da Teologia), não liga o pecado apenas à prática-individual. Mas o une com a OPRESSÃO DOS POBRES. Há um texto nas sagradas Escrituras que está no Profeta AMÓS capítulo 2:
Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Israel, e por quatro, não retirarei o castigo, porque vendem o justo por dinheiro, e o necessitado por um par de sapatos, Suspirando pelo pó da terra, sobre a cabeça dos pobres, pervertem o caminho dos mansos; e um homem e seu pai entram à mesma moça, para profanarem o meu santo nome. E se deitam junto a qualquer altar sobre roupas empenhadas, e na casa dos seus deuses bebem o vinho dos que tinham multado.
Tratar o pobre mal, e explorá-lo, neste período da história de Israel era legal, mas condenável pelo DEUS ETERNO.
Lemos no profeta Isaías capitulo 5:
Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar, e fiquem como únicos moradores no meio da terra! A meus ouvidos disse o SENHOR dos Exércitos: Em verdade que muitas casas ficarão desertas, e até as grandes e excelentes sem moradores. E dez jeiras de vinha não darão mais do que um bato; e um ômer de semente não dará mais do que um efa. Ai dos que se levantam pela manhã, e seguem a bebedice; e continuam até à noite, até que o vinho os esquente! E harpas e alaúdes, tamboris e gaitas, e vinho há nos seus banquetes; e não olham para a obra do SENHOR, nem consideram as obras das suas mãos. Portanto o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento; e os seus nobres terão fome, e a sua multidão se secará de sede
Deus condena os ricos que se enriquecem à custa dos pobres, junto com aqueles que são beberrões. É PECADO!
A Bíblia condena leis injustas. No Salmo 94 lemos:
Acaso poderá aliar-se a vós um tribunal iníquo, que pratica vexames sob a aparência de lei? Atentam contra a alma do justo, e condenam o sangue inocente. Mas o Senhor certamente será o meu refúgio, e meu Deus o rochedo em que me abrigo. Ele fará recair sobre eles suas próprias maldades, ele os fará perecer por sua própria malícia. O Senhor, nosso Deus, os destruirá.

A sociedade é mantida por leis, seja elas escritas ou costumeiras. Os poderosos articulam nos parlamentos, nos tribunais, para que as leis, os programas de governo, as políticas públicas os beneficiem. Prejudicando os POBRES E OS DESFAVORECIDOS ECONOMICAMENTE. ISTO É PECADO!

Uma das estratégias do mal é a sutileza. E o discurso da sociedade nos leva a aceitar a condição de exploração que vivemos. Aqui entra O Serviço Social na intervenção investigativa, através da pesquisa e análise da realidade social, atuando na formulação, execução e avaliação de serviços, programas e políticas sociais que visam a preservação, defesa e ampliação dos direitos humanos e a justiça social.

A menor, ou nenhuma interferência do Estado (como órgão regulador do mercado) e a livre concorrência. A política do LAISSE-FAIR, do Estado Mínimo é importante para o desenvolvimento do indivíduo, e das minorias: SEJA SEU PRÓPRIO PATRÃO. PROGRAMAS DE PDV’S; MICRO-EMPRESÁRIOS ETC. Em contrapartida: exploração do pobre, do trabalhador, das minorias étnicas, da maioria pobre. AÍ ENTRA DE NOVO A TEOLOGIA: O PECADO ESTÁ PRESENTE EM UM SISTEMA POLÍTICO-ECONOMICO:
• QUE AFASTA O SER HUMANO DO SEU MAIOR PRAZER: VIVER;
• TIRA DELE O QUE HÁ DE MAIS PRECIOSO: A VIDA.
• REDUZ O SER HUMANO A OBJETO, CONTRÁRIO A VONTADE DE DEUS QUE O FEZ PESSOA
• QUE GERA VIOLÊNCIA, EXPLORAÇÃO E SEGREGAÇÃO (SOCIAL, RACIAL, SEXUAL ETC).

Mas como Assistentes Sociais e cristãos (para aqueles que são), podemos combater isso. Deus, em Jesus Cristo nos possibilita ver um mundo com outros olhos. Não os olhos da exploração, com os olhos da destruição, do egoísmo. Mas com os olhos da GRAÇA, do AMOR, DA FÉ, Α ESPERANÇA.
DO OIAPOQUE AO CHUÍ, VAMOS FAZER DO SERVIÇO SOCIAL UM MEIO DE COMBATE AO PECADO SOCIAL QUE SE ESTABELECE NESTE MUNDO.

Conto com vocês minhas afilhadas e meus afilhados.
Um beijo carinhoso e que Deus os abençoe!

Prof. Jose Rômulo de Magalhães Filho
Zé Rominho

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