Penso hoje o significado de ser pai. Não entendia muito
o que isso significava há alguns anos. Tinha raiva do meu pai por alguns dos
seus atos, que julgava não serem “paternos”.
Quando me tornei pai, foi um sonho: cuidar de um ser
tão pequeno, ser responsável pelo desenvolvimento de uma criatura tão frágil.
Pensei em histórias que contaria, em lugares que conheceríamos juntos, nas
horas de brincadeiras juntos. Um sonho. Acreditei realmente que aquilo seria
para toda a vida. Não dimensionei o tempo, não previ perdas, não imaginei
desencontros. Apenas sonhei.
O tempo passou. Filhos adultos, cada um em seu lugar,
com suas histórias, com seus próprios sonhos. Não foi para sempre aquele
momento. Não há mais o mesmo tempo para brincadeiras, para histórias, para
estar junto. O tempo deles é outro. Como foi o meu com o do meu Pai. Vejo hoje que
não foi só ele que ia ficando mais distante, eu fui mesmo me distanciei. Meus
sonhos e projetos eram outros. Na época não entendi. Via apenas de um lado.
Hoje começo a compreender.
Então, com mais idade, pergunto de novo o que é ser
pai. Sem as mesmas expectativas dos 25 anos. O que é realmente estar nesta
condição?
Mil coisas me vêm à mente. Vêm histórias vividas (como
filho e pai), vem decepções, alegrias, sonhos realizados e frustrados. Mas uma
palavra e sentimento persiste: cuidado.
Nesta palavra há uma série de elementos que me remetem
a paternidade. Cuidado com aquela criança frágil, que precisa de atenção
dobrada, de presença, de ação rápida quando está doente, de recursos
financeiros para suprir as necessidades. Ser pai é cuidar dos pequeninos com
apreensão e alegria.
Mas também cuidado no que se refere a estar
acompanhando sua vida escolar, de saber quem são seus amigos, de ficar acordado
ajudando nas tarefas escolares, ou acompanhando em um hospital. Cuidado é
mostrar que está presente sempre. É se fazer sentido, sem muitas vezes estar visível,
pois as vezes estamos longe.
Cuidado é mostrar o caminho que devem seguir, ensinar
as Escrituras, orar por eles e com eles. Mesmo que eles não demonstrem interesse
ou por um tempo neguem a fé. Cuidar é não desistir. É crer que filhos são
herança, e a promessa é para toda a família.
Cuidado é depois que os caminhos trilhados por eles não
são mais os nossos, continuar presente. Pronto para qualquer coisa. Do mesmo
jeito que fazíamos quando eram crianças.
Cuidar é também se deixar cuidar por eles. Pois haverá
um tempo em que serão eles que vão de alguma forma cuidar de nós. Seremos nós
que exigiremos atenção, presença.
Assim, entendo que ser pai é ser cuidador.
Que Deus o Pai, cuidador de todos nós, me permita como
pai que sou de três maravilhosos filhos, continuar cuidando de cada um deles na
sua especificidade. E amanhã quando necessário for, ser cuidado por eles. A
experiência da paternidade me fez com certeza rever muitos dos meus conceitos.
Amo minhas filhas. Amo meu filho. Amo meu pai.
Zé Rominho
13 de agosto 2017