segunda-feira, 19 de outubro de 2015

O tempo está passando! Tic-Tac, Tic-Tac ...

O ano está chegando ao fim. Lembrei de minha Avó Iracema. Dizia ela que quando entra o embro-bro o ano chegou ao fim. É setembro, outubro, novembro e dezembro. O último quadrimestre do ano. Mas qual o significado disso? Tudo não é  a mesma coisa?

Sim, do ponto de vista temporal, dos dias, semanas e meses não tem diferença entre outubro, janeiro ou maio. Mas da perspectiva produtiva da qual nós somos submetidos há muita diferença. Somos medidos pelo que produzimos em determinado tempo, em um período definido. Em nosso contexto, o início é o janeiro e dezembro o final. Em 12 meses precisamos dar resultados.

Quanto poupou durante o ano? Quais bens consumiu? Para onde viajou? Fez o quê? Se é na universidade: quantos artigos? Congressos? Se é na vida religiosa: quantas almas? E por aí vai.

Lembro de uma época que em reuniões eclesiásticas (sou presbiteriano e nos reunimos pelo menos uma vez por ano em Presbitério para avaliar as atividades passadas e planejar o ano que se inicia) os relatórios pastorais eram cheios de dados quantitativos. Quanto mais visitas, casamentos e batismos realizados, mais sucesso se tinha. Tudo se resumia em duas palavras: números e cobrança.

E é isso que todos os dias fazem conosco: cobram. E o que é pior, nós passamos a cobrar de nós mesmos. E ao chegar o fim de mais um período produtivo, começam a chegar os instrumentos de avaliação. Esta semana já preenchi um questionário de uma das minhas atividades. O que você fez durante o ano? Parece pergunta de filme de terror trash (o que vocês fizeram no verão passado?).

Mas é neste contexto que vivemos. Contexto de produtividade. O pensar, o contemplar, o sentir, o apenas estar junto não tem mais importância. O que vale é o número, e o que vem atrelado a ele. Seja de artigos, ou orientandos, ou visitas ou almas. Número, produtividade. Não há interesse em saber quem conversou com você, ou o que você fez quando alguém chorou ou sorriu. Se você ficou conversando com um aluno que está vivendo um conflito em relação a profissão, ou se aquele crente da igreja não sabe se muda de emprego ou não.

Estas coisas não são mensuráveis, não fazem sentido.

O ano está acabando, e eu estou aqui, Em vez de fazer algo produtivo, mensurável, estou escrevendo coisas de quem não tem o que fazer. Afinal de contas, isso não vai gerar nenhum lucro. É verdade! Deixa eu voltar para a realidade. Outubro já está no fim, e faltam cerca de 70 dias para acabar o ano. E o pior não escrevi nenhum artigo, não fui  a nenhum congresso, e só batizei 2 pessoas este ano. Acho que não vou ganhar presente de Natal. Não fui um bem menino.

Mas a vida segue!

Zé Rominho

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Mais um dia do Professor



Acordei hoje lembrando que há trinta anos minha carteira profissional foi assinada como Professor. Foi no Instituto 12 de Agosto, na cidade de Irecê – BA. Me senti orgulhoso, saudoso e velho!

Já se vão 30 anos de exercício de uma profissão. Não enriqueci, não mudei o mundo (eu pensava que poderia fazê-lo), e não consegui ver o cenário mudar. Meio decepcionante. Acordei cercado de provas para corrigi, com algumas mensagens, de colegas desejando um feliz dia do professor. Acordei para ir executar mais um dia de tarefas.

De uma turma de 66 pessoas (só pela manhã), dia de entregar avaliações e notas, uma estudante, já na porta voltou e disse: feliz dia do professor! Até que enfim salvou-se uma alma. Os demais... É só mais um dia. Inclusive não muito feliz para alguns que receberam suas notas.

Não sei porque ainda me surpreendo. Afinal são 30 anos. As coisas não mudaram tanto assim. Surgiram novas tecnologias (vê meu post de 2011), aumentou as nossas atividades (portal do professor, caderneta eletrônica, gravar vídeo, etc), os estudantes de hoje são semelhantes aos do passado: práticos. Isto é, qual foi minha nota? Falta quanto para passar?

Construção do conhecimento? Descobrir coisas novas? Pesquisa? Aprofundar discussões? Faz tempo que não me iludo mais. Prefiro a surpresa de quando alguém chega e diz que quer fazer, ou produz um texto cativante, ou ainda reconhece que não foi legal e que pode melhorar. Aí meu sorriso abre e vejo que nem tudo está perdido.

Mais deixa para lá. Já sonhei bastante por hoje, e também já me lamentei. Tenho mais 130 atividades para corrigir, quatro turmas para lançar no portal, palestra para acompanhar os estudantes, aula para preparar, 50 projetos de pesquisa de graduação para dar parecer, ufa! Isso até segunda-feira. Depois tem mais. Quem mandou estudar?

Com tudo isso, sou feliz por poder compartilhar com outras pessoas experiências, e juntamente com essas pessoas descobrir coisas novas.
A tod@s: Feliz mais um dia do Professor!


Zé Rominho

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Pulos de Alegria

Cheguei em casa ontem e não vi pulos, nem ouvi latidos, muito menos corre-corre. Na hora do almoço não vi aquele olhar pidão, nem pulos atrás de mim ao tirar os pratos da mesa. Ao acordar hoje, não fui saudado À beira da cama, nem patinhas me arranharam. E mais tarde, ao chegar em casa e entrar com o carro na garagem não vai haver mais aquela cadelinha pulando dentro do carro.

Quando fazia algo que nos desagradava e brigávamos com ela, se escondia e aos poucos ia se aproximando, como que pedindo desculpas. Uma graça. Uma alegria. É esta a imagem que guardamos.

É Bibi se foi...Uma parceira. Uma misto de cadela e canguru, com pulos bem altos. Viajada: Aracaju, João Pessoa, Natal. Viajava quietinha. Nem parecia a desesperada de quando chegávamos em casa. Como dizíamos,  era meio suicida. Mordeu um anzol quando tinha meses, fugiu de um pet shop e ficou três dias desaparecida em Aracaju, pulou do telhado em Salvador. Mas não sobreviveu a última travessura.

Vamos sentir falta dela. Mas Deus nos ensinou algumas coisas através da presença de Bibi conosco:


  • Perdão - É.. Se brigávamos, ou não estávamos a fim de brincar com ela, ela saía de perto e logo voltava com um brinquedo, lambia, pulava. Mesmo sem motivo e mandávamos ela sair, ela sempre voltava para estar ao nosso lado;
  • Igualdade - Bibi brincava com todo mundo. Adulto, criança, homem, mulher, rico, pobre. Até de quem não era muito chegado a cachorro, ela queria brincar. Chegava alguém, ela logo ia buscar seu brinquedinho. Para ela o importante era estar junto, brincar. Sem ato discriminatório algum.
  • Pedir Ajuda - Dias de trovão, ou com muitos fogos, ela tinha medo, se assustava, então pulava nos braços, ou ficava quietinha aos nossos pés. Reconhecendo que precisava de ajuda e proteção.


Sei que muitos não entendem os sentimentos de perder um animal de estimação, até criticam os sentimentos. Mas estas criaturas são instrumentos usados pelo Pai para de alguma forma nos ensinar algo.

Sou grato ao Pai por nos permitir aprender também através de sua Criação. Foi bom ter Bibi conosco estes 5 anos.

@ZeRominho

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Feliz Natal

Este é um post antigo, que reedito neste Natal.

“Porque um menino nos nasceu, [...] Principe da Paz” Isaías 9,6
Acredito que todos conheçam esta promessa presente no livro do Profeta Isaías, e que aponta para o nascimento de Deus-menino: Jesus. A promessa tem muitos significados, muitas linhas de interpretação. Mas como não sou exegeta, nem biblista, gostaria de pensar com vocês apenas em dois aspectos da promessa: 1) o nascimento do menino e 2) a paz. Duas coisas que estão presente no nosso dia-a-dia. Duas realidades que vivemos a cada instante. Meninos e meninas que nascem e morrem diante de nossos olhos e a ausência de paz que se propaga velozmente ao nosso redor.
Crianças são espancadas, violentadas, exploradas, comercializadas diariamente. Todos os dias há uma notícia de descaso com meninas e meninos. E nem nos lembramos delas. Ver crianças sendo exploradas ou deixadas ao léu parece que tornou-se algo normal, parece que nos acostumamos com estas cenas, já passamos por estas crianças e desenvolvemos a capacidade de não enxergá-las. A capacidade não de ser invisível, mas de tornar às coisas que não nos dizem respeito invisíveis. E estas meninas e meninos não fazem parte de nosso universo, daí não a enxergarmos. Só quando de alguma forma somos ameaçados por eles, quando se sai da “paz”, é que reconhecemos a existência destes pequeninos.
Mas o Menino-Deus disse certa vez que o Reino de Deus é destes pequeninos, e mais que quem não se tornar como um deles não pode ver este Reino. Que maravilha, precisamos nos tornar como crianças: inocentes, crédulas, amigas, inquietas, espontâneas, verdadeiras. Jesus nasceu e viveu como criança, para nos mostrar a beleza e a pureza do Reino de Deus.
A criança nos traz a memória a alegria, a pureza, a simplicidade, a inocência. A criança renova nos homens e mulheres a esperança, as forças para que mundo se torne melhor. A criança aproxima famílias que vivem em desarmonia, reacende amizades, reanima corações solitários.
Natal é a celebração do nascimento de uma criança. Deus se fez criança, para nos mostrar o que ele espera de nós. Natal é mais que celebração, é momento de assumir compromisso. É hora de refazer à aliança com o Senhor Eterno. Aliança que inclui essas crianças que deixamos a mercê da sorte. Penso que neste Natal precisamos, não distribuir panetones nas ruas ou arrecadar presentes e distribuir numa favela (ou comunidade que é mais chiq). Necessitamos de ações que dêem as crianças ESPERANÇA, a mesma que encontramos no Senhor Jesus. Necessitamos de Igrejas, Cristãos. Líderes religiosos menos demagogos, e com mais ação. Precisamos de menos pirotecnia eclesial, estatal, comercial. E necessitamos de que o Menino-Deus torne-se verdadeiramente o Príncipe da Paz.
Por isso, penso paz não como a ausência de guerra, ou a presença maciça de militares nos morros do Rio de janeiro. Paz real acontece quando o Deus-Menino nasce, brota na vida dos homens e mulheres. Na noite de seu nascimento, lá em Belém da Judéia, se ouviu um coral de anjos anunciando e cantando: “na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor [...] Glória a Deus nas alturas, Paz na terra [...]” (Lucas 2, 11-14).
Por isso Natal é Paz. Mas como o Natal deve ser diário, esta paz não se resume apenas em alguns instantes. Ela é eterna.
Que este Natal seja diferente. Que ele marque o seu compromisso com o Senhor Eterno. Que aconteça Natal na sua vida! Feliz Natal!
@zerominho

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Dia do Pastor Presbiteriano Independente

Aos meus amigos pastores e pastoras:
Hoje a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil celebra o Dia do Pastor e do Missionário, em homenagem a ordenação do Rev. Eduardo Carlos Pereira. Abaixo parte de um pequeno texto que em breve apresentarei em um Simpósio. Só para lembrar quem foi nosso homenageado. Mesmo discordando dele em algumas posições, entendo que sua vida é inspiradora para nós pastores hoje.

Em tempo de Mega Pastores, Apóstolos, Bispos, em tempos que nossas igrejas nos cobram produtividade, crescimento, cultos animados, etc. Lembro do nosso homenageado de hoje: Sua preocupação: o povo brasileiro. Seu objetivo: Evangelizar. Sua vida: compromisso com o Evangelho.

Parabéns aos meus amigos pastores. Da IPIB e de outras igrejas irmãs. Como dizia um professor meu no Seminário em Recife (SPN): “Não é fácil a nossa vocação, mas eterno o nosso galardão...”

Que o dia de hoje seja de celebrações, descanso, reflexão e de renovação de votos com o Senhor Eterno, com seu Reino, com o chamado para a obra e com a IPIB.

Abraços a todos e todas.

Rev. Ze Rominho
@zerominho

Mineiro de nascença, Eduardo Carlos Pereira (1855-1923), foi professor desde muito cedo. Entrou para a Igreja Presbiteriana em 1875, sendo ordenado ministro presbiteriano em 1881, com vinte e seis anos de idade. Desde cedo no seu ministério, Eduardo Carlos Pereira mostrou-se preocupado com a evangelização das terras brasileiras. Cada vez mais alcançando espaço nas reuniões conciliares, demonstra o interesse pela pregação do Evangelho, passando a questionar a liderança norte-americana no que se referia ao redirecionamento de verbas para a educação secular, e não no investimento na formação de pastores brasileiros.
Eduardo Carlos Pereira buscava em seus sermões e textos publicados a conversão de católicos à fé protestante. Fundou em 1883, a Sociedade Brasileira de Tratados Evangélicos “com o objetivo de produzir literatura evangélica em linguagem bem trabalhada e acessível ao povo dentro do contexto nacional” (MENDONÇA, 1995, p. 87).
Com a visão de uma autonomia para a Igreja Presbiteriana brasileira, Pereira concebe o que foi chamado de Plano de Missões Nacionais, que tinha como objetivo acelerar o processo de independência financeira para sustentar pastores, missionários e professores brasileiros. Em 1893, juntamente com outros pastores presbiterianos nacionais, funda o jornal O Estandarte (ainda em circulação). Para divulgar suas ideias, lança em 1887 a Revista de Missões Nacionais.
Duas grandes lutas foram travadas por Eduardo Carlos Pereira. Uma com os missionários americanos, no que diz respeito à necessidade de se evangelizar o Brasil, e que todos os esforços da igreja deviam ser direcionados para esta ação. E outra foi com a Igreja Católica, onde Pereira saiu em defesa do protestantismo refutando ideias que surgiram tentando desestabilizar a igreja protestante que se consolidava no Brasil. Pereira escreve nas páginas de O Estandarte duas séries de artigos mostrando que havia uma superioridade civilizatória protestante em relação aos povos colonizados por católicos romanos, no que se refere principalmente ao progresso material e moral do povo. (MENDONÇA, 1995).
Eduardo Carlos Pereira entendia que a América Latina continuava pagã, para ele a mensagem católica romana havia distorcido a verdadeira mensagem do Evangelho. O fato de ter sido colonizada por países cristãos, não fazia dela um continente cristão. Esta perspectiva de Pereira fez dele um líder a ser ouvido e respeitado pelos pastores brasileiros. Sua liderança levou a desenvolver ideais nacionalistas, que culminou no surgimento da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB) em 1903.
Depois de pastorear igrejas em Minas Gerais, a Igreja Presbiteriana de São Paulo o elegeu em 1888 como seu pastor e passou a mantê-lo com recursos próprios. É o primeiro pastor brasileiro eleito e sustentado integralmente com recursos nacionais.


sexta-feira, 26 de julho de 2013

DIA DOS AVÓS





Engraçado, quando eu era criança não se comemorava este dia. E eu tinha todos os motivos para comemorar. Conheci e convivi com os meus 4 avós. Cada um do seu jeito.
Lembro-me de minha Avó Paterna, D. Maria, para mim Vó Maria. Uma mulher de bom humor, sempre com um sorriso no rosto e pronta para dar um jeitinho nos filhos e netos que estavam ao seu lado. Já meu Avô Paterno, Vô Mário, este era sério! Passava respeito! Sisudo! Agora quando nasceu Érika, minha irmã, ia todo dia levar uma fruta e visitar a princesa (era assim que a chamava). No fundo eu sentia ciúmes, mas hoje vejo o carinho que ele tinha por aquela menina.
E meu Avô Materno, o Major Wilson. Vovô Wilson! Este eu via mais doçura, menos “sisudez”. Sempre que ia nos visitar, preparávamos para recebê-lo. Frutas (o melão não podia faltar), biscoito salgado, leite. Meu Avô era diabético. Lembro do seu sorriso. Como era criança, não pude desfrutar de sua sabedoria.
E minha Vó Cema. Vovó Iracema! Esta foi com quem mais convivi. Na verdade, ela nos criou. Mãe e Pai trabalhando e Vó conosco, cuidando, beijando, nos alimentando de carinho e sabedoria. Se apanhei de um dos meus avós, foi dela que levei umas palmadas. Doce, séria, alegre, pensativa. Não dormia sem pensar em todos os seus. Dizia que irradiava pensamentos. Sei que o tempo que passei longe dela, seus pensamentos foram até onde eu estava.
Eu tinha tanto para comemorar este dia! Mas não existia, ou não era comercial. Sei lá!
Não sou avô ainda. Tudo tem seu tempo. E espero que meus filhos cumpram o tempo de Deus. Mas quero ser avô como foram os meus: dedicados.
Hoje meus filhos podem aproveitar a presença dos seus avós. Como eu, eles também têm o privilégio de conviver com eles. Uns estão mais distantes, outros bem perto.
Vejo como meu Pai hoje quer agradar minha filha. E ainda se chateia porque acredita que ela não está gostando das coisas que ele faz para ela (bolo, fatia, doce, pudim...). Vejo minha Mãe acordando cedo para cuidar de meu sobrinho, se preocupando com ele, fazendo tudo que minha vó fez conosco, cuidando, amando.
Olho para minha sogra, e percebo sua alegria com a casa cheia de netos, e com o sorriso no rosto porque elogiaram seu cozido ou o lombo. Meu sogro feliz quando sai para ir comprar pão para os netos.
Meu irmão, que já é avô, literalmente baba diante de seus netos! Acredito que esta experiência é inexplicável.
Neste dia, quero agradecer pelos avós que tive. Quero louvar a Deus por estes que são avós hoje. Que o Pai Eterno abençoe a cada dia vocês, vovôs e vovós. Pois a presença de vocês na vida de nossos filhos é muito preciosa. Nós pais precisamos de vocês.
Que Deus os abençoe!


@zerominho

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia "da mulher" ou Dia de Luta pelos direitos da mulher?

Pensei em escrever algo sobre o Dia Internacional da Mulher motivado por algumas questões. Primeiro, porque um dos focos do meu trabalho no doutorado têm sido as relações de gênero, e estudo mulheres no pentecostalismo. Depois porque as chamadas comemorações do dia da mulher têm incomodado, a mim e a muita gente.


Curioso como sempre fui, dizem que uma característica do pesquisador é a curiosidade (então desde criança tento ser pesquisador), procurei entender o que significava o dia 8 de março, e porque um dia específico “dedicado” as mulheres.

Interessante que o “Dia da Mulher” começa como momento de luta. Ainda no século XVIII onde Olympe de Gouges, em 1791, lança a "Declaração dos Direitos da Cidadã", onde reivindicava o "direito feminino a todas as dignidades, lugares e empregos públicos segundo suas capacidades". Afirmava também que "se a mulher tem o direito de subir ao cadafalso, ela deve poder subir também à tribuna" (http://www.redemulher.org.br/8demarco.htm).

Já no século XIX, A Revolução Industrial levou a um aumento absurdo da jornada de trabalho e a luta pela redução desta jornada para 8 horas diárias passou a ser a grande bandeira de luta dos trabalhadores e trabalhadoras da indústria. Então em 1819, depois de um momento de enfrentamento e de violência policial, que chegou a usar canhões contra os trabalhadores e trabalhadoras, a Inglaterra chegou a aprovar uma lei que reduziria para 12 horas o trabalho das mulheres e dos menores entre 9 e 16 anos.

Mas a luta ainda não havia acabado só estava começando! Nos Estados Unidos, um grupo de tecelãs, na cidade de Nova Iorque, na busca de conquistas semelhantes a das companheiras inglesas, inicia uma série de manifestações pela redução da jornada de trabalho. São 129 tecelãs da Fábrica de Tecidos Cotton, elas cruzam os braços e param suas atividades pelo direito de trabalharem 10 horas diárias. É a primeira greve nos Estados Unidos que é conduzida unicamente por mulheres.

O resultado? Mulheres reprimidas com violência pela polícia, e para fugirem de tal ação descabida, se refugiam nas dependências da fábrica. Então no dia 8 de março de 1857, os empregadores e a polícia truculenta, fecham as portas da fábrica e ateiam fogo com as mulheres dentro. As tecelãs morrem asfixiadas e carbonizadas.

No Início do Século XX, uma ativista feminina (Clara Zetkin) propõe um dia para marcar mundialmente a luta pela conquista dos direitos da mulher, tendo como inspiração as tecelãs de Nova Iorque. É o início desta data que hoje “comemoramos”.

Mas relembro esta história para apenas trazer a tona o que motivou um dia internacional de luta pelo direito da mulher. Que foi transformado por uma sociedade consumista em DIA DA MULHER. Bem diferente a entonação: de Dia de LUTA, para o dia “da”.

Esta pequena mudança traz implicações ideológicas gravíssimas. Não se fala mais em luta, em conquistas, ou não se discute mais a exploração do trabalho feminino, ou a discriminação da mulher no mercado de trabalho, especialmente as profissões marcadas como “de mulher” (um erro histórico terrível). O Dia da Mulher é uma data comercial. Neste dia se entregam flores às mulheres (o mercado superfatura as rosas nesta semana), se sugere presentear às mulheres com joias, cestas de café da manhã e todos os tipos de bens de consumo. O dia de luta transformou-se em mais uma data comercial. É como o “dia da noiva”, uma data para comemorações não pelas conquistas sociais e luta por mais conquistas e direitos, mas um dia para se consumir. Lastimável!

“Parabéns Mulheres! Vocês estão ocupando os espaços antes exclusivos de homens, como os campos de futebol”. Esta foi uma das chamadas de uma rede de televisão nacional, para mostrar os “espaços” alcançados por mulheres. Por trás desta ocupação de espaço: mercado consumidor.

Confesso que esta abordagem deste dia me cansa, me desanima, me entristece. E tenho estes sentimentos, porque um grupo minoritário (homens), vem há séculos ditando o comportamento da maioria (isto é a falada ideologia), e consegue mudar o foco das lutas sociais.

É assim com o Dia de luta das mulheres, é assim com o direito à terra dos indígenas, com a Reforma Agrária, com a luta de quilombolas, com os trabalhadores, com grupos religiosos etc. Sempre transformando o que é motivo de reflexão e luta em algo banal. É o processo de banalização das lutas sociais. Ou quem sabe de idiotização do povo. Quanto mais idiota o povo, mais consumista, menos crítico, mais dócil, menos participativo.

Não sei sinceramente como me comportar neste dia. Se chego em um lugar com mulheres reunidas e não dou “feliz dia da Mulher”, sou chamado de insensível, de machista etc. Se me curvo a ideologia dominante masculina e dou parabéns, entrego flores, mando cartões virtuais com mensagens em Power Poit, estou indo de encontro a toda uma história de luta de milhões de mulheres que no silêncio de uma vida opressa, lutaram para que hoje pudéssemos refletir sobre isso.

Diante da minha incerteza, “Eu fico com a pureza das respostas das crianças: É a vida! É bonita e é bonita! Viver e não ter a vergonha de ser feliz” (Gonzaguinha).

Abraços a todas e a todos vocês, mulheres homens que ainda acreditam que com a luta, a reflexão e a participação popular podem mudar atitudes, comportamentos, homens e mulheres.

Abaixo um vídeo que gostei muito e compartilho com vocês.

@Zerominho

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Mensagem de um Pai no casamento do filho

Semana passada foi o casamento do meu filho (uns dizem que é enteado, mas para mim é um filho mesmo, e  muito amado), e tive a honra de juntamente com o pastor dele, celebrar o casamento. Fiquei com a responsabilidade de levar para eles, e para os presentes uma reflexão sobre o casamento.

Hoje posto no blog esta reflexão como uma homenagem a Luciano e Suenize, desejando a eles muitas felicidades, e rogando as bênçãos do Altíssimo sobre eles.
Então vamos lá ...

Casar um filho é uma experiência muito interessante. Um misto de alegria: a criança cresceu. E de tristeza, meu bebê está saindo de casa.
Mas também vem uma expectativa: será que as orientações que demos, as conversas e os exemplos de vida que passamos vão ajuda-los a não cometerem os mesmos erros que cometemos? O que dizer nesta hora?

Quero pensar a partir de Efésios 5: “Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a igreja”
De forma poética e inspirada, o apóstolo Paulo consegue fazer uma ponte entre a relação dual (relação entre Homem e Mulher)  com a relação entre Cristo e a Igreja. E coloca o amor entre a mulher e o homem no mesmo patamar do Amor de Cristo e a Igreja, mostrando a importância e a dimensão deste amor.

Por isso Nano e Ize, quero hoje pensar nesta dimensão do amor: do amor conjugal que se espelha no Amor de Cristo pela sua Igreja. E quero refletir com vocês dois, sobre as implicações deste Amor.
Antes de tudo este Amor implica em FIDELIDADE. Nós cantamos: DEUS É FIEL.  Nós homens e mulheres na nossa relação com Deus, somos muitas vezes infiéis, traímos o Senhor, e muitas vezes colocamos nossa confiança em muitas coisas e o ABANDONAMOS. Mas ele é Fiel. Isto é, ele é DIGNO DE CONFIANÇA. Podemos depositar nele nossa confiança que ele não vai nos decepcionar. O AMOR REQUER CONFIANÇA, FIDELIDADE. Não podemos na relação entre homem e mulher ter ações que decepcione o outro.

Amar é ser fiel, é ser digno de confiança e confiar no outro. Não existe AMOR  NUMA RELAÇÃO DE DESCONFIANÇA.
O CUIDADO é outra dimensão do AMOR. Quem ama CUIDA! O amor de Cristo pela Igreja mostra esta dimensão do amor. O senhor cuida de Nós. Diz o texto sagrado que o Senhor é nosso pastor, e nada nos faltará. O cuidar do outro é implicação básica do AMOR.

E cuidar é estar disposto a servir, isto significa também DEDICAÇÃO. É o estar junto na riqueza e pobreza, saúde e doença. Cuidar e se dar. “Como Cristo deu sua vida pela Igreja”. Amor é cuidado e dedicação.
Muitos casais só pensam o amor na condição de serviço do outro, mas esquece que o cuidado, a dedicação é MÚTUA. E o que percebemos nesta dimensão do amor é a ideia do NÃO ABANDONO! AS OVELHAS QUE MEU PAI ME DEU, DE MODO ALGUM LANÇAREI FORA.

Cuidar é estar junto em toda e qualquer situação.  E o amor nos leva a isso!
Mas amor também implica em RESPEITO. Eis uma dimensão do amor de Cristo que muitas vezes não percebemos. Mas DEUS NOS RESPEITA, respeita nossas individualidades. O texto sagrado fala que Deus nos chama pelo nome. Isto é, Ele sabe que temos nossas fraquezas, jeitos, PERSONALIDADES.

O amor nos leva a respeitar o outro. Respeitar a individualidade, cada um de nós antes de sermos DOIS, SOMOS UM. ANTES DE SERMOS NÓS, SOU EU. NÃO EXISTE NÓS SEM EU E TU. Isto quer dizer que chegamos na relação conjugal com nossos desejos, sonhos, manias etc. E isso precisa ser RESPEITADO PELO OUTRO.

Não estou falando em isolamento, mas em respeito de espaço.
COMPANHEIRISMO. Hino antigo: DIVINO COMPANHEIRO. O Deus Amor, na pessoa de Seu Filho diz: “eis que estou convosco, todos os dias de vossa vida.” O AMOR é companhia. É estar junto. E aí vem a ideia de CUMPLICIDADE. Esta é outra dimensão do Amor.

Quem ama está junto. Junto nos sonhos, junto na alegria, na tristeza. Ser companheiro é acreditar no outro, é animar o outro. Lembrem-se do profeta Isaias: UM AO OUTRO AJUDOU, E AO SEU PRÓXIMO DISSE: SÊ FORTE. Quem ama incentiva.
Por isso Nano e Ize, com o amor que tenho por vocês não mais amor de um pai por um filho, mas de um pai por dois filhos agora. Deixem o AMOR de CRISTO pela sua Igreja ser o espelho do amor de vocês. Aprendam com o Senhor o que verdadeiramente o amor. E quando a dúvida bater à porta, o medo aparecer diante de vocês, busquem aquele que OS AMA DE FORMA INCONDICIONAL. E inspirado neste amor, busquem as respostas no SENHOR.

Se Amem! E Amém!
Isto é: Sejam fiéis, se cuidem, se respeitem sejam companheiros.

Nós, os pais estaremos orando todos os dias por vocês.
Que Deus os abençoe!

@ZeRominho


domingo, 16 de outubro de 2011

DIA DO PROFESSOR 2011


Este ano demorei a postar algo sobre o dia do Professor. Não por descaso ou falta de fé na profissão. Mas porque estava trabalhando. Estava em sala de aula. Diferente do ano passado, quando neste Blog mesmo fiz umas considerações sobre este dia.
Pois bem! Mais um ano no exercício da docência. A cada ano que passa encontramos novidades na profissão. Há alguns anos reclamávamos porque faltava giz para escrevermos no quadro negro (que era verde), depois chegou o tão sonhado quadro branco. Ótimo, não mais nos sujaríamos de giz, não mais desenvolveríamos aquela crise alérgica.
Mas aí inventaram o tal do retroprojetor. Maravilha! Para quê escrever em cada aula. A mesma transparência vai servir de um ano para o outro. Viva a tecnologia! O problema era o chegar mais cedo na escola para reservar o equipamento antes do colega. Vi brigas homéricas pelo direito de usar o equipamento disponível.
Mas a tecnologia não pára no tempo, e aí vem o datashow. Excelente! Não é mais necessário guardar as transparências, e posso ainda corrigir o texto, atualizar, personalizar etc. Tudo em um pen drive. Os retroprojetores ficaram esquecidos. Não há mais briga por eles. A briga é pelo datashow. Sem ele alguns colegas não conseguem ministrar uma aula, pois todo o conteúdo este em power point.
Aí surge mais novidades. As redes Wi-Fi. Chamadas eletrônicas, aulas com acesso a internet em tempo real, vídeos do you-tube. Tecnologia e mais tecnologia. As escolas cada vez mais investindo nestas novidades, capacitando professores a escreverem blogs, usarem o twitter, terem perfil no facebook (TENHO TUDO ISSO!). Precisamos no adequar ao novo aluno. Novas ferramentas para o aluno do século XXI.
Agora já tem escolas que dão para os alunos tablets. Vamos nós mais uma vez nos adequarmos a esta novidade. Será que vamos aposentar o pen drive e o datashow? Vamos dar aulas em tempo real com os alunos acessando o conteúdo no tablet? Espere e verás o próximo capítulo da novela tecnológica.
E o professor diante de todas as novas tecnologias? Como se sente? Está satisfeito? Preparado? Assustado? Atordoado? “Aperreado?”
A maioria dos nossos professores estão ainda na pré-história tecnológica, ou seja, no giz. Ainda há escolas sem carteiras, ainda há salários atrasados, ainda há desrespeito com a classe, ainda há ingerência na sala de aula. Sabe por que? Porque a profissão ainda não é respeitada.
Toda tecnologia à disposição de professores não foi criada para que nosso trabalho seja realizado com maior dedicação, para que tenhamos mais tempo para preparar melhor os conteúdos e desenvolver técnicas pedagógicas que leve crianças, jovens, mulheres e homens a se tornarem agentes transformadores da sociedade, sujeitos de suas histórias. A tecnologia não foi desenvolvida para que nos dediquemos mais à pesquisa e a construção do conhecimento. A tecnologia é desenvolvida como elemento de facilitação para que aqueles que lucram com a educação lucrem mais. Para que governos apresentem melhores relatórios, instituições ganhem mais pontos nas avaliações regulares e para que os alunos pensem que estão verdadeiramente aprendendo.
Não sou contra a tecnologia, se não este blog não existiria. Sou contra qualquer ditadura, inclusive a tecnológica. Qualquer elemento que venha cercear a liberdade de um professor, que surja como imposição é prejudicial, limitadora e deve ser rejeitada.
Não é preciso de tecnologia para ser professor. Ela pode vir auxiliar na difícil, mas prazerosa tarefa de partilhar e construir conhecimento. Mas não é, e nunca será essencial. Essencial é o ser humano professora e professor. Essencial é o investimento em pessoas, em relações. Essencial é o respeito, é a valorização, é o reconhecimento da capacidade criadora destes homens e mulheres que se dedicam a profissão. Essencial é não ser o professor identificado apenas como um número ou uma pontuação qualquer. Essencial é ser professor!
Parabéns grandes professores e professoras. Parabéns minha Mãe, grande e inspiradora professora. Quando crescer quero ser uma professora igual a senhora: dedicada, livre, competente.
Parabéns colegas. Amanhã é dia de continuar a labuta.

@ZeRominho

domingo, 14 de agosto de 2011

MAIS UM DIA DOS PAIS

Eu gosto destas datas comerciais. As pessoas ganham dinheiro, outras gastam. Os filhos ficam eufóricos em comprar presentes, os que vão receber (neste caso os pais) fazem aquela média de que não estão nem aí para o que vão receber (mentira pura!), e ainda dizem: “não precisava”.

É assim com o dia das mães, dos pais, natal, dia dos namorados e por aí vai. Tem sempre um “não precisava”. Mas se voce não der, ou não lembrar de telefonar ao menos… A casa cai. As pessoas ficam tristes, se consideram diminuídas, esquecidas e menos importantes. Como isso é interessante.

Estas reações, de quem recebe e de quem dá, revela como nossas relações estão fragilizadas. Como deixamos de pensar no outro como pessoa. A lembrança vem no bojo de uma data específica. E aqui estou falando da lembrança de dar e de receber. Há pessoas que só se lembram dos outros quando são esquecidas (paradoxal isso!).

É por isso que gosto destas datas. Elas revelam a sociedade que vivemos e as pessoas que somos. Numa só palavra: interesseiros. Pode parecer até meio estranho eu falar isso, mas é assim que vejo as relações hoje em dia. Quando estabeleço relações com base no dar e receber, crio relações superfúlas, frágeis. Quando penso no outro como pessoa, ser humano, alguém que como eu quer ser amado, independente do é ou tem, não espero algo em troca. Apenas vou ao encontro dele.

É desta forma que penso o dia dos pais. Mais um dia. Mais um dia de sair de mim mesmo ao encontro desinteressado do outro. Do outro que como eu quer ser amado, respeitado, entendido.

Se me perguntassem o que gostaria de ganhar nos dias dos pais, responderia: UMA SOCIEDADE MENOS INTERESSEIRA, E MAIS HUMANA. Incluindo aí os filhos e os pais.

É isso aí. Abraços!

@Zerominho