sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

LEMBRANÇAS

Esta semana o Facebook me fez encontrar algumas pessoas que sem estas ferramentas virtuais, as chamadas redes sociais, dificilmente eu teria alguma notícia. E quando relembramos bons momentos da nossa vida somos tomados por um sentimento chamado de saudade. Uma “coisa” boa acontece conosco. Boas lembranças, e somos transportados para outra dimensão.

É justamente sobre lembranças que quero escrever hoje.

O mundo atual não nos permite ter lembranças. As notícias que nos chegam já mastigadas dos meios de comunicação (internet, telejornais etc.) não possibilita digerir a notícia anterior. Só para exemplificar, em janeiro a notícia foi a tragédia da região serrana do Rio de Janeiro, logo mudou o foco, e passou a se falar da crise no Egito. Esta semana foi à aposentadoria de um jogador de futebol. E a cada novo “furo” jornalístico, deixa-se de lado a notícia “antiga”. Esta avalanche de informação não permite que tenhamos lembranças. Não há tempo para refletir sobre o ocorrido, logo não se transforma a informação em conhecimento. Sem conhecimento não há lembranças.

O mundo da informação é fantástico. Um exemplo disso é como pude reencontrar pessoas via a rede mundial de computadores. Mas este mundo também é trágico. Pois ele faz com que o ontem pareça que nunca existiu. A lembrança é o modo que temos de perpetuar momentos. De tornar inesquecível aquilo que de algum modo foi importante para a construção de nossa existência. Mesmo algumas situações que nos são desagradáveis, que nos vêm à lembrança, foram importantes na nossa formação como pessoa.

Lembranças são informações que foram pensadas, processadas, refletidas. Experiências vividas que se tornaram em verdadeiro conhecimento. Conhecimento de vida. Por isso, quando há um acelerador, algo que acenda a chama, elas vêm à baila (adoro esta expressão). E vêm trazendo consigo sentimentos, idéias, desejos etc.

Neste momento me vem à lembrança o Salmo 126: “Quando o Senhor trouxe os cativos de volta a Sião, foi como um sonho. Então nossa boca encheu-se de riso...” É, quando no cativeiro se lembravam das coisas da Terra Prometida, eles tinham grandes e boas lembranças. Isso significa que as experiências vividas foram tão boas, tão especiais que eles não esqueceriam jamais. Experiências que foram fundamentais na construção da identidade daquela nação. Lembranças são reflexos daquilo que vivemos, logo nos ajudam na construção da nossa identidade.

Lembrar da minha adolescência estes dias e dos meus primeiros meses de vida pastoral a partir do reencontro (mesmo que virtualmente) com algumas pessoas que conviveram comigo, me fez perceber o como é importante processar as informações e transformá-las em conhecimento. Este conhecimento foi responsável pela pessoa que sou hoje. Estes amigos fazem parte da minha vida. Aprendi com eles e com as situações vividas. Foram experiências vividas por isso mesmo fundamentais na construção da minha existência enquanto pessoa.

Talvez por isso se diga por aí que “Recordar viver”.

Abraços

@zerominho

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cansei de Cobranças

Aprendi desde cedo que somos responsáveis pelas nossas escolhas, e isso nos faz automaticamente responsáveis pelos nossos atos. Esta lição que aprendi em casa, com minha avó e com minha mãe me possibilitou nunca fugi das minhas decisões. Isso não significa que não tenha errado, ou não tenha me arrependido de algumas atitudes. O que significa é que sempre as enfrentei.

E porque trago isto à baila neste momento? Por um motivo muito simples: as pessoas têm medo de assumirem seus erros e de enfrentar suas escolhas, mesmo que sejam acertadas.

Em um mundo de resultados, somos cobrados sempre pelo lucro que temos ou podemos dar a alguém (inclusive instituições). Se tomarmos uma atitude que reflita algum tipo de perda, nós somos execrados, somos visto com desconfiança, e até “perdemos” alguns amigos. Por mais consciente que seja nossa decisão, por mais que enfrentemos as situações, as pessoas nos cobram resultados, sempre considerados positivos na leitura destes cobradores de atitudes.

Confesso que cansei de cobranças deste tipo. Ser responsável é não fugir das situações que a vida nos coloca e das que não geram lucro.Ser responsável é enfrentar a vida sem medo. Ser responsável é não estar preocupado em gerar lucro, mas sim VIDA.

Por esta semana é só. Abraços e tenham uma semana feliz!

@ZEROMINHO

domingo, 16 de janeiro de 2011

A EQUAÇÃO DA VIDA

É interessante como as coisas acontecem. Certas vezes saímos em busca de algumas coisas na esperança de que ocorram como nós desejamos. Aí, como não temos o domínio das situações, nos sentimos decepcionados. Então descobrimos que nossa auto-suficiência é pura ilusão.

O mais incrível é que sabemos destas coisas e continuamos acreditando que dominamos as situações. Continuamos a buscar acreditando que encontraremos o que queremos, que faremos como desejamos, que realizaremos o planejado. Não sei se chamo isso de ilusão ou de ingenuidade.

A vida é simplesmente uma incógnita. Há momentos que parecem que temos o domínio da situação, outros que não conseguimos enxergar soluções viáveis. Diante desta incógnita o que fazer? Como resolver esta equação da vida?

Lembro da minha vida de estudante secundário. Amava resolver equações de 1º e 2º graus e achar o valor de “x”. Passava horas resolvendo equações. Algumas vezes criava as minhas, com graus de dificuldade cada vez maior. Se eu soubesse que a própria vida iria criar suas equações, eu teria treinado mais para hoje saber as respostas para as equações da vida.

A auto-suficiência nestas horas não serve para nada, não resolve a equação da vida. Minha única esperança é saber que a resposta existe. Posso não saber onde e como encontrar, mas ela existe.

Para todas e todos uma ótima semana!

@zerominho

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

PRÓSPERO ANO NOVO!

Esta é uma saudação comum nestes dias. Passado o Natal, as pessoas se preocupam com a festa do ano novo, ou como se convencionou a dizer: réveillon. Uma expressão que se tornou comum em nosso meio. E junto com o réveillon aparece a saudação PRÓSPERO ANO NOVO. Lembro-me das festas de passagem e ano na casa de minha avó paterna. Ao redor da mesa, cantando “Adeus Ano velho, feliz Ano Novo” e fortemente marcado pela ideologia global “Hoje a festa é sua é de quem quiser”. O melhor era a comida que era bem farta naquele dia.

Pois bem, gostaria de pensar com vocês neste meu post de fim de ano sobre estas três palavras separadamente: PRÓSPERO, ANO E NOVO.

Vou começar com a prosperidade. Todos nós queremos prosperar, e a idéia principal ao se desejar para alguém um ano próspero está em que o outro tenha uma melhor condição financeira no ano vindouro. “Muito dinheiro no bolso” diz à música que todos conhecemos.

Desejamos aos outros, mas no fundo queremos isso para nós. É uma saudação bumerangue. Queremos um ano mais rico do que o que está acabando. Sim, esta é a realidade. Sem hipocrisia. Por melhor que o ano tenha sido no que se refere a vida financeira, nós não estamos satisfeitos e queremos mais prosperidade. Até aí tudo bem. Penso que o problema começa quando focamos apenas nisto.

É neste contexto de um foco apenas na prosperidade financeira que pessoas usam roupas íntimas amarelas, põe semente de romã na carteira, e outras simpatias. Alguns que se dizem cristãos evangélicos chegam a fazer correntes, campanhas de oração para obter tal prosperidade. Lastimável.

Desejo a outros e quero para minha vida prosperidade na vida familiar, no conhecimento de Deus, na formação acadêmica etc. A vida é um conjunto de coisas e que esperamos em Deus que prosperem.

A outra palavra é ano. Como adoramos segmentar a vida. Contamos os dias e as horas. Separamos as estações do ano e elegemos a que preferimos. Há uma necessidade de fragmentação do tempo. Lembro de Santo Agostinho: "Que é, pois, o Tempo? (...) Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar (...) já não sei". Nesta ansiedade para se entender o tempo, o dividimos, o segmentamos. E aí tentamos descartar o que é tempo passado.

Ao se desejar que o ano seguinte seja próspero, as pessoas tentam dizer: ANO que vem vai ser melhor. E alguns até dizem: até que enfim acabou este ano! Por quê? A experiência da vida não é válida? O ano findo não lhe trouxe nada de bom?

Creio que o ano que se finda, este pedaço do tempo que fragmentamos e chamamos de ano, deveria servir para aprendizado. Cada segmento de tempo é parte de nossa existência, logo elemento para reflexão. O desejo não deve ser de fim, mas de continuidade. Nós existimos como seres de continuidade.

Para encerrar quero pensar sobre o novo. Que necessidade de excluir o velho do nosso meio. Incomodam-me aquelas eternas charges do ano “velho” caído, curvo, de barba grande e branca, com ares de tristeza despedindo-se, enquanto o ano novo, criança sorridente se aproxima cheia de “vida”. Qual a necessidade de pensar o passado, como velho, como doente, que não tem mais energia e o que é pior, que não pode mais executar nada.

O novo deve estar lado a lado com o velho, pois ele só existe porque o velho construiu os caminhos para que chegasse até aqui. O novo nada mais é do que o ontem hoje. Toda a esperança que vem com o novo, é devido ao que aconteceu antes.

Então que neste ano de 2011, que vem cheio de esperança (novos governantes, novas expectativas, etc.), com possibilidades de grandes realizações, você, eu e todos possamos ser felizes. Sejamos prósperos do conhecimento de Deus, e cheios de vontade para fazermos aquilo que neste fragmento de tempo chamado 2010 não conseguimos realizar. Que a maior de todas as novidades venha a ser a nossa felicidade.

Vou desejar a você e a todos (inclusive eu mesmo) um 2011 abençoado pelo Senhor Eterno e repleto de paz. Um ano muito feliz.

Zé Rominho

@zerominho

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL

“"Porque um menino nos nasceu, [...] Principe da Paz” Isaías 9,6

Acredito que todos conheçam esta promessa presente no livro do Profeta Isaías, e que aponta para o nascimento de Deus-menino: Jesus. A promessa tem muitos significados, muitas linhas de interpretação. Mas como não sou exegeta, nem biblista, gostaria de pensar com vocês apenas em dois aspectos da promessa: 1) o nascimento do menino e 2) a paz. Duas coisas que estão presente no nosso dia-a-dia. Duas realidades que vivemos a cada instante. Meninos e meninas que nascem e morrem diante de nossos olhos e a ausência de paz que se propaga velozmente ao nosso redor.

Crianças são espancadas, violentadas, exploradas, comercializadas diariamente. Todos os dias há uma notícia de descaso com meninas e meninos. E nem nos lembramos delas. Ver crianças sendo exploradas ou deixadas ao léu parece que tornou-se algo normal, parece que nos acostumamos com estas cenas, já passamos por estas crianças e desenvolvemos a capacidade de não enxergá-las. A capacidade não de ser invisível, mas de tornar às coisas que não nos dizem respeito invisíveis. E estas meninas e meninos não fazem parte de nosso universo, daí não a enxergarmos. Só quando de alguma forma somos ameaçados por eles, quando se sai da “paz”, é que reconhecemos a existência destes pequeninos.

Mas o Menino-Deus disse certa vez que o Reino de Deus é destes pequeninos, e mais que quem não se tornar como um deles não pode ver este Reino. Que maravilha, precisamos nos tornar como crianças: inocentes, crédulas, amigas, inquietas, espontâneas, verdadeiras. Jesus nasceu e viveu como criança, para nos mostrar a beleza e a pureza do Reino de Deus.

A criança nos traz a memória a alegria, a pureza, a simplicidade, a inocência. A criança renova nos homens e mulheres a esperança, as forças para que mundo se torne melhor. A criança aproxima famílias que vivem em desarmonia, reacende amizades, reanima corações solitários.

Natal é a celebração do nascimento de uma criança. Deus se fez criança, para nos mostrar o que ele espera de nós. Natal é mais que celebração, é momento de assumir compromisso. É hora de refazer à aliança com o Senhor Eterno. Aliança que inclui essas crianças que deixamos a mercê da sorte. Penso que neste Natal precisamos, não distribuir panetones nas ruas ou arrecadar presentes e distribuir numa favela (ou comunidade que é mais chiq). Necessitamos de ações que dêem as crianças ESPERANÇA, a mesma que encontramos no Senhor Jesus. Necessitamos de Igrejas, Cristãos. Líderes religiosos menos demagogos, e com mais ação. Precisamos de menos pirotecnia eclesial, estatal, comercial. E necessitamos de que o Menino-Deus torne-se verdadeiramente o Príncipe da Paz.

Por isso, penso paz não como a ausência de guerra, ou a presença maciça de militares nos morros do Rio de janeiro. Paz real acontece quando o Deus-Menino nasce, brota na vida dos homens e mulheres. Na noite de seu nascimento, lá em Belém da Judéia, se ouviu um coral de anjos anunciando e cantando: “na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor [...] Glória a Deus nas alturas, Paz na terra [...]” (Lucas 2, 11-14).

Por isso Natal é Paz. Mas como o Natal deve ser diário, esta paz não se resume apenas em alguns instantes. Ela é eterna.

Que este Natal seja diferente. Que ele marque o seu compromisso com o Senhor Eterno. Que aconteça Natal na sua vida! Feliz Natal!

@zerominho

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A ESPERANÇA DE ZE ROMINHO

Estes últimos dias têm sido de terror para os moradores do Rio de Janeiro. Carros incendiados, arrastões, polícia na rua, carros de guerra etc. Ficamos de longe só tomando conhecimento dos acontecimentos via os meios de comunicação: TV, rádio, internet. E todos ficamos assustados com cenas que vimos e notícias que recebemos. E quase a uma só voz ouvimos e dizemos: graças a Deus isso não acontece aqui!

Interessante é que esta mesma expressão nós dissemos e os companheiros cariocas disseram quando a mesma imprensa divulgava as cenas de violência em Kosovo, Afeganistão, Iraque, Faixa de Gaza etc. Graças a Deus isso não acontece aqui!

Mas chegou o dia que estas coisas (violência, guerra, exploração, medo, drogas) começaram a acontecer aqui. Hoje no Rio, mas já foi em São Paulo (lembram do PCC), e amanhã pode ser Salvador, Recife, BH. Ou até mesmo em cidades menores como Aracaju, João Pessoa, Maceió.

Ou será que já chegou, só não é interessante a grande mídia divulgar. Pois aqui pode não ter tanques na rua, mas há mortes violentas (assassinatos de sem teto em Maceió, bala perdida em Salvador matando crianças) assaltos mirabolantes (caixas eletrônicos explodindo no sertão), as drogas invadindo a sociedade (o crack matando nossos jovens). Há também a exploração infantil (do trabalho a exploração sexual), a violência contra a mulher e a criança, desemprego...

Tudo isso abre a porteira para que meliantes (nome que a polícia gosta de usar) assumam o controle de espaços, pessoas e estabeleçam seus domínios. Assumam o poder. A ausência do Estado que tem como missão MANTER A ORDEM, PROMOVER O PROGRESSO, GARANTINDO O BEM COMUM, possibilita que meliantes organizados tenham tal poder.

Manter a ordem significa garantir direitos básicos do cidadão. Como o de ir e vir, o direito a educação, saúde, segurança. Aí pode se pensar em progresso, e o bem de todos. O Estado deve manter a ordem pública.

Para isso às vezes é necessário colocar os tanques na rua, como estamos acompanhando no Rio de Janeiro. Mas na maioria das vezes é preciso vontade política para colocar ordem. E isso passa por garantir a educação do nosso povo, passa por garantir condições para que haja trabalho, geração de renda. Com educação, emprego, saúde, crianças não precisaram ser exploradas, jovens não ficaram desocupados e vulneráveis as drogas e ao crime organizado. A sociedade organizada e protegida não se venderá a traficantes e milicianos que sugerem uma falsa proteção.

A ação militar no Rio é uma mostra de que algo está acontecendo, mas para que evitemos mais guerras por aqui, precisamos agir na base. O Estado tem que assumir seu papel. E aí não tem discurso neoliberal que se justifique. O Estado é responsável pela ordem, pelo progresso e pelo bem comum. Isto é pelas políticas de segurança, pela política econômica e pelas políticas sociais.

Espero que as coisas mudem. Espero que continuemos a viver em um país sem guerras, mas também em um país sem exploração infantil, sem violência doméstica, sem desemprego, sem miséria, um país sem medo. Espero que o Estado assuma sua missão, cumpra seu objetivo. Pois nós (povo) somos elemento essencial deste Estado, e confiamos a direção do mesmo aos nossos representantes legítimos. Não a bandidagem, não a meliantes. Confiamos aqueles e aquelas que se dizem gente do bem. E espero sinceramente que voltemos a ser aquele Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro... A terra das aves que gorjeiam bem diferentes das de lá.

Eu acredito!

Zé Rominho.

@zerominho

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

DIA DO PROFESSOR

Este ano estou afastado da sala de aula, estou em ano de estudos, em “exílio acadêmico”. Não recebi parabéns dos alunos, nem de colegas. Também não vou participar de lanches na coordenação, nem receber brinde (caneta, relógio, agenda...), muito menos uma maçã.

Confesso que depois de anos em sala de aula e hoje afastado, amanheci hoje saudosista. Com saudades do: “parabéns pro pelo seu dia” (na Bahia chamam professor de pró). Senti falta do abraço caloroso de colegas que como eu, sonham e acreditam na profissão que escolhemos (lembro aqui de Gustavo Motta - FTC, Eurílio, Catarina, Kátia – UNIT, Kleber – UFBA, dentre tantos).

Estou em exílio por opção e exclusão. Por opção, pois resolvi continuar minha formação acadêmica, e passei a me dedicar ao doutorado. Opção consciente, mesmo que contrarie a lógica do mercado que exige cada dia se ter mais. Mas por outro lado, estou em exílio por exclusão. Excluído de um sistema educacional privado que não investe na formação dos seus colaboradores, para não dizer funcionários. Que exige produção e qualificação, mas não colabora para tal, exceto com cursos de curta-duração, e que reproduzem claramente a visão ideológica do mercado.

É aí que me pergunto com toda sinceridade: Vale a pena ser professor? O que celebrar hoje? Vou tentar responder do meu jeito, o jeito “Zé Rominho” de ser.

Valer no sentido de valor monetário não vale. Ganhamos pouco, somos no Ensino Privado (superior ou não) explorados: reuniões, capacitações para “inglês” ver, em algumas instituições salários atrasados (lembro-me da época fatídica de uma faculdade que dei aula em Jequié – BA, e de alguns colegas numa outra faculdade em Salvador), fiscalização de coordenadores se estamos na sala de aula no horário designado (como se fossemos irresponsáveis ou brincássemos de dar aula). São revisões de prova absurdas, que questionam nossa competência, dentre outros absurdos.

Se existem alunos que nos respeitam como pessoas e profissionais, existem, e não são poucos, e o que é pior, incentivados pelo modelo que se instalou em nossas escolas, que nos desrespeitam. Quer com palavras, quer com ações: não lêem textos, não assistem às aulas, escrevem “abobrinhas”, “batem fotografias em sala de aula”, conversam no celular... E ainda ouvimos dos nossos superiores: “o cliente tem razão”. Razão de quê?

Mas vale a pena sim ser professor! E vale a pena no sentido ontológico de valor. Eu e minha velha filosofia... Pois vou tentar conceituar valor.

Valor é algo que atribuímos a alguma coisa, dar valor a algo, é não ficar indiferente. Valorar é uma experiência tipicamente humana. Valor é aquilo que é bom, útil, positivo. É algo que vale a pena, deve ser realizado. São valores assumidos e vivenciados a partir da experiência social de cada indivíduo. Os valores são resultados da experiência vivida por homens e mulheres, ao se relacionarem com o mundo, e que estas experiências mudam de acordo com o contexto em que vivem.

Neste sentido, SER PROFESSOR VALE A PENA, pois é uma experiência espetacular. Ouvir de um aluno: “professor eu quero pesquisar, o senhor me orienta”; ou: “obrigado professor por me ajudar a entender isso”; ou ainda, depois de algum tempo ouvir que hoje é um excelente profissional graças a seus professores. Isso é realmente cheio de valor.

E é por isso que temos o que celebrar hoje. Não pelos salários baixos, as poucas condições de trabalho, as turmas cheias ou a exploração a que somos diariamente submetidos. Mas por eles, pelos nossos companheiros e companheiras de sala de aula. É por eles que celebramos este dia.
Mesmo que eu não tenha recebido nem uma mensagem no Orkut ou no Facebook, nem uma “tuitada” (olha o saudosismo, e um pouco de decepção), mas é por eles que celebro este dia.

Assim, colegas de jornada, sei que para aqueles que estão nas instituições privadas ou no ensino público básico não há muito com o que se alegrar, para aqueles que estão no Ensino Superior público há sempre uma expectativa, para os que estão no “exílio” como eu há saudades. Mas para todos nós há esperança. Esperança de uma profissão menos explorada, mais valorizada e melhor remunerada (porque não?). Então, se você não tinha o que celebrar hoje, celebre como eu pelo menos isso: A ESPERANÇA.

E a todos vocês meus ex-professores (Eduardo, Celeste, Dante Gallefi, Elisete Passos, Cipriano Luckesi, Waldomiro, Otto Dourado, Henrique Guedes); meus professores atuais (Elisete Schade, José Willington); e aos amigos professores, que muito me ensinam e ensinaram (Robson Neves, Uverland, Enedina, Eurílio, Gustavo Motta, Luis Henrique, Catarina, Vera Núbia, Dilson, Sonia, Kleber, Expedito); e minha Mãe – Edna Magalhães, minha eterna professora. Não só agradeço como me junto a vocês nesta celebração.

Valeu!!!!!

Zé Rominho.